BIOGRAFIA

Douglas Norris Nelsen (1923 – 2010)

Douglas Norris Nelsen, pintor, desenhista, gravador, poeta e escritor. Brasileiro de descendência anglo americana nasceu em 27 de novembro de 1923 na cidade de São Paulo. Descendente direto do Sir Willian Cecil Norris - Barão de Aberdeen.

Oriundo de família de muitas posses, devido à crise de 29, passou da riqueza à extrema pobreza, tendo sido criado por sua Tia Materna, que teve influência marcante e decisiva em sua personalidade e opções de vida.

Sua infância foi de muito sacrifício, mas rodeada de amor, ternura e sensibilidade. Sua Tia-Mãe possuía elevada cultura e o estimulou a gostar de arte de um modo geral. Música Clássica, pintura literatura fizeram parte de sua formação. Desde cedo demonstrou aptidão para o desenho. No entanto, a preocupação com a formação de um caráter indestrutível, valores inabaláveis e elevada sensibilidade foram por toda a sua vida as suas maiores características.

Estudou em colégio público e morou na região do Paraíso, Rua Vergueiro, onde conviveu com classes operárias e imigrantes ou filhos destes, de diversas nacionalidades, o que lhe deu uma vivência multi social e racial. Seus irmãos mais velhos, Roberto Carlos e Nadyr, também o influenciaram principalmente o primeiro com sua vocação social e política.

Foi também um esportista nato, destacando-se em todas as modalidades as quais dedicou: ginástica, musculação, luta greco-romana, salto ornamental e natação. Militou no Clube de Regatas Tietê. Todavia o veio artístico sempre predominou e a busca pela forma de manifestar-se o levou a transitar por diversas modalidades artísticas, tais como: canto lírico, cinema, televisão, artes plásticas e por último a literatura.

Para sobreviver e alimentar a sua arte, teve diversas profissões e atividades. Trabalhou numa Beneficiadora de algodão, foi manobrista de estacionamento, salva-vidas, lutador profissional, ator de televisão e cinema. Sua última atividade, professor de ginástica, na qual se manteve por muitas décadas, tendo sido o primeiro Personal Trainer que se teve notícia no Brasil. Como não tinha a preocupação em comercializar sua arte, mas uma verdadeira fúria em produzir e criar com extrema dedicação, focou em desenvolver-se nas artes plásticas.

As artes plásticas surgiram definitivamente em sua vida, quando foi apresentado ao pintor Raphael Galvez, membro do Grupo Santa Helena.

Na década de 50 atuou na televisão e no cinema. Na TV Tupi teve seu trabalho reconhecido e em 1957 foi premiado com o Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo, vivendo o papel de Quasímodo, contracenando com Lolita Rodrigues como Esmeralda, dirigido por Syllas Roberg.

No cinema recebeu o prêmio “Governador do Estado”, por sua atuação em Paixão de Gaúcho, dirigido por Walter G. Durst.

Com a premiação foi possível casar-se, em 1959, com Zuleika que foi sua companheira por toda a vida.

Apesar de todo trabalho como ator, convivendo com Raphael Galvez, percebeu que era a pintura a manifestação que poderia transmitir toda sua sensibilidade e humanidade. A amizade e cumplicidade entre os dois foram imediatas e definitivas. Raphael o adotou como seu filho na arte, mas respeitando seu estilo próprio e personalidade. Era muito interessante ver como um pintor da vida, das cores e da alegria como Raphael Galvez se identificava tanto com Douglas Norris, que era o artista da humanidade, da emoção e do domínio do “Claro-Escuro” presentes principalmente em seus desenhos. Apesar de estilos próprios e antagônicos, a essência e a visão artística eram as mesmas e convergiam na forma como encaravam a arte, existindo apenas o sentido da criação sem a preocupação de reconhecimento comercial.

Douglas Norris transitou por todas as técnicas das artes plásticas, mas em algumas atingiu a maestria e um domínio pleno. Autodidata, aprendeu e desenvolveu sua técnica através de muita pesquisa, procura e estudo. Suas xilogravuras e ponta-seca demonstram alcance de um nível comparável aos melhores “gravadores” do mundo. Algumas fases de suas pinturas, destacando-se as séries Têmperas sobre papelão, são de uma expressão única e de rara qualidade. Sua série de mosaicos retratando a vida de Cristo foi feita com pedras brutas lapidadas na turquesa e coladas em lápide pelo próprio artista durante um ano de trabalho árduo, tendo suas unhas corroídas devido à cola ácida. Esses trabalhos são um marco e dão uma característica da grande capacidade de criação, dedicação e superação do artista. Todavia, foi no desenho que o artista mais se encontrou e tramou uma luta constante de criação e reinvenção de sua própria arte. Talvez porque nessa modalidade, Douglas sentia que a técnica nunca chegou a predominar sobre a emoção, a mão sobre o coração; já nas outras técnicas quando sentia que “sentava” e conseguia fazer uma obra de grande qualidade, parava de produzir por considerar que o trabalho se tornara mais mecânico que emocional.

Talvez duas de suas maiores qualidades como artista plástico tenham sido sua conduta frente à arte e sua capacidade de reinventar-se, de redescobrir-se, mas que, independentemente da fase, poderá ser identificado o seu caráter artístico.

Nas décadas de 1990 e 2010, também se dedicou a literatura, tendo escrito mais de 20 livros de poesias, contos e pensamentos, onde transmite histórias e passagens vivenciadas ao longo de mais de 80 anos de uma vida difícil e sofrida, mas plena e verdadeira.

Em 2010, sofreu uma queda que o levou ao hospital, acelerando os problemas de saúde que vinha apresentando. Em sua fase terminal, perdeu parte de sua lucidez e impedido de se movimentar, não tendo a menor condição de desenhar ou escrever, não se deu vencido e por várias vezes manifestou sua alma artística da única forma que poderia, brindando aos que estavam presentes cantando alguns trechos de óperas depois de mais de 40 anos sem cantar.

Nem a vida, nem a morte o venceram, ele simplesmente decidiu partir em 09 de Setembro de 2010.